domingo, 16 de maio de 2010

Vôo ao Passado










São 08h, o aeroporto é o Santos Dumont. Estou embarcando para Porto Alegre, voando Azul, pois logo tenho que estar em Santa Maria, à convite de um amigo.
São 15h. Estamos em Santa Maria e nem minha família sabe que estou aqui.
Aceitei o convite de meu amigo Larry para pilotar o seu mais novo Cirrus SR22, um sonho de consumo dos mais aficcionados em aviação.
São 15:45. Decolo da pista 29 e início uma subida rápida até 1500 pés. Uma curva à esquerda e outra à direita e em seguida estou sobrevoando a cidade já nivelado. Tomo o rumo de São Pedro, compenso a aeronave, que voa lisa como o sonho de qualquer piloto.
Uns poucos minutos e já estou quase em São Pedro do Sul. Tento visualisar a chácara do meu amigo Nédio, mas não me lembro mais da localização. Vejo uma pista do que parece ser de corrida de motos, e acho que a pista do Nédio ficava por aqui.
Passo na vertical de São Pedro e aponto para o Cerro do Bugio que desponta à minha frente trazendo belas lembranças. Foi lá que um dia sonhei ter minha casa, com uma pista ao lado, e todo o sossego do mundo... Chego pela frente e vejo que a estrada continua a mesma. Foi nela que o Lucas aprendeu a dirigir. Parece até que vejo a brasília verde encostada na sombra das árvores e a Cláudia esperando, paciente, que eu terminasse minhas aulas de asa delta,junto com o Lucas ainda pequeno que carregava um toby novinho através da cerca de arame.
O aviãozinho é muito rápido, circulo pela direita e giro em seguida pela esquerda para passar novamente pela frente do morrinho mágico onde eu passava meus finais de semana. Desta vez baixo todo o flape e reduzo o motor o suficiente para manter a sustentação. Sigo em frente até a casa demolida onde colhiamos laranjas para fazer suco quando chegássemos. Tão perto e tão longe...
Inicio uma subida e coloco o Cirrus sobre a estrada e vou voando sobre ela até perto de Santa Maria, quando então faço uma curva à esquerda e passo bem na frente do morro da antena. Vejo um paraglider se preparando para decolar, lembro de nosso primeiro festivalzinho quando eu trouxe uns pilotos de Sapiranga para demonstrar o vôo... e tomo o rumo de Itaára.
Agora sim, depois de seguir voando sobre a estrada até Val de Serra, localizo o barranquinho onde eu dava minhas aulas e regulava minha asa. Reduzo o motor e deixo a aeronave descer até uns 100 metros acima do chão. Vejo o campo deserto. Não... Faço um esforço e vejo o Lucas correndo com o Toby já adulto e o Bernardo novinho correndo atrás. Aponto para o mato logo abaixo e vejo nossas barracas montadas no nosso acampamento. O Zabiela fazendo fogo e o Daniel tomando banho no córrego. Mais na frente o Roque e o Tiago desmontavam uma asa. O Lucas, pequenino, caminhando pelo campo ao meu lado.
Inicio uma subida e giro em direção ao aeroporto.
Pouso autorizado, o aviãozinho entra rápido na pista surrada pelos aviões de caça da base, mostrando que não é somente um avião. É uma verdadeira máquina do tempo, pelo menos para mim. O Larry vira para mim e pergunta -Did you enjoy? Eu respondo com um sorriso silencioso, segurando a emoção.
São 21h e eu termino de escrever isso em meu note, à uns 10.000 metros, dentro de um Boeing 737-800 da Gol, enquanto retorno ao Rio.

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